sexta-feira, 11 de junho de 2010

Músicas sertaneja

Conforme prometido, segue abaixo uma lista com as minhas músicas sertanejas favoritas... Tentei fazer um top 10, mas conforme for necessário e, segundo minha memória, vou acrescentando...

1. Cabocla Tereza (Tião Carreiro e Pardinho)

"Lá no alto da montanha/ Numa casa bem estranha/ Toda feita de sapê/ Parei numa noite à cavalo/ Pra mór de dois estalos/ Que ouvi lá dentro bate/ Apeei com muito jeito/ Ouvi um gemido perfeito/ Uma voz cheia de dor:/ "Vancê, Tereza, descansa/ Jurei de fazer a vingança/ Pra morte do meu amor"/ Pela réstia da janela/ Por uma luzinha amarela/ De um lampião quase apagando/ Vi uma cabocla no chão/ E um cabra tinha na mão/ Uma arma alumiando/ Virei meu cavalo a galope/ Risquei de espora e chicote/ Sangrei a anca do tal/ Desci a montanha abaixo/ Galopando meu macho/ O seu doutor fui chamar/ Voltamos lá pra montanha/ Naquela casinha estranha/ Eu e mais seu doutor /Topemo com um cabra assustado/ Que chamando nóis de lado/ A sua história contou"
Há tempo eu fiz um ranchinho/ Pra minha cabocla morar/ Pois era ali nosso ninho/ Bem longe deste lugar.
No arto lá da montanha/ Perto da luz do luar/Vivi um ano feliz/ Sem nunca isso esperar
E muito tempo passou/Pensando em ser tão feliz/ Mas a Tereza, doutor,/ Felicidade não quis.
O meu sonho nesse olhar/ Paguei caro meu amor/ Pra mór de outro caboclo/ Meu rancho ela abandonou.
Senti meu sangue ferver/ Jurei a Tereza matar/ O meu alazão arriei/ E ela eu fui procurar.
Agora já me vinguei/ É esse o fim de um amor/ Esta cabocla eu matei/ É a minha história, doutor.

2. Catimbau (Liu e Léo)

Estive lendo no romance, de um casal de namorados/ de Rosinha e Catimbau, dois jovens apaixonados./ Rosinha, família rica, Catimbau era um coitado,/ capataz de uma fazenda, mas trabalhador honrado./ Lá domava burro bravo, no laço era respeitado,/ um caboclo destemido, por tudo era admirado.
Catimbau encontrou Rosinha lá no alto do espigão,/ por se ver os dois sozinhos, quis se aproveitar da ocasião./ Catimbau pediu um beijo, Rosinha disse que não./ Ela bem estava querendo, mas não deu demonstração./ De tanto que ele insistiu ela deu uma decisão,/ vamos deixar para outro dia, para as festas de São João.
Passaram esses cinco meses, chegou o esperado dia./ Rosinha estava mais linda, como uma flor parecia./ A festa tava animada, todos com grande alegria,/ quando o pai de Rosa veio perguntando quem queria/ mostrar ciência no laço, pra laçar o boi Ventania/ e os vaqueiros amedrontados, todos eles se escondiam.
Chamaram então Catimbau, mas ele não atendeu/ Rosinha disse: "Meu bem vá fazer o pedido meu."/ Catimbau é corajoso mas nessa hora tremeu,/ depois deu um sorriso amargo pra Rosinha respondeu/ "Eu vou laçar esse touro pra te mostrar quem sou eu,/ mas depois eu quero o beijo que você me prometeu."
Catimbau mais que depressa no seu bragado montou,/ chegou a espora no macho e a laçada ele aprontou,/ a laçada foi certeira que o povo se admirou,/ Catimbau foi infeliz, o bragado se atrapalhou./ O laço fez um volta, no seu pescoço enrolou,/ com o pialo que o boi deu, sua cabeça decepou.
Trouxeram a cabeça dele, Rosinha nela pegou,/ chorando desesperada desse jeito ela falou:/ "Catimbau prometi um beijo, receba, agora te dou."/ Na boca do seu amado tristemente ela beijou./ Este é fim de uma estória dando provas que desse amor/ de Rosinha e Catimbau, que a morte separou.

3. A sementinha (Lourenço e Lourival)

Lá na casa da fazenda onde eu vivia/ Numa manhã de garoa e de céu nublado/ Achei no chão do terreiro uma sementinha/ Pensei logo em plantá-la no chão molhado/ O tempo passou depressa e a mocidade/ Chegou como chega a noite como ao cair da tarde/ Veio morar na fazenda uma caboclinha/ Graciosa, bela e meiga, e na flor da idade.
Iniciou-se um romance entre eu e ela/ Na sombra aconchegante de uma paineira/ Dei a ela uma rosa com muita esperança/ Que eu colhi de um galhinho daquela roseira/ Marcamos o casamento para o fim do ano/ Pra mim só existia ela e pra ela só eu/ Pouco mais de uma semana para o nosso idílio/ A minha flor prometida doente morreu.
Arranquei um pé de rosa na primavera/ E plantei na sepultura de minha amada/ Todas tardes eu molhava com o meu pranto/ A roseira foi murchando e acabou em nada/ A chuva foi embora e o sol ardente/ Matou a minha roseira e secou meu pranto/ Só não matou a saudade da caboclinha/ Pois eu veja sua imagem por todo canto.
Por isso é que eu vivo longe da minha terra/ Seguindo a longa estrada de minha vida/ Procuro viver sorrindo mas no entanto/ Eu choro ao recordar a amada querida/ O destino como sempre é caprichoso/ É cheio de traição e de sonhos loucos/ Tal qual aquela roseira e a minha amada/ Eu pressinto que também estou morrendo aos poucos.

4. Couro de boi (Tonico e Tinoco)

Conheço um velho ditado, que é do tempo dos zagáis[?]./ Diz que um pai trata dez filhos, dez filhos não trata um pai./ Sentindo o peso dos anos sem poder mais trabalhar,/ o velho, peão estradeiro, com seu filho foi morar./ O rapaz era casado e a mulher deu de implicar./ "Você manda o velho embora, se não quiser que eu vá"./ E o rapaz, de coração duro, com o velhinho foi falar:
Para o senhor se mudar, meu pai eu vim lhe pedir/ Hoje aqui da minha casa o senhor tem que sair/ Leve este couro de boi que eu acabei de curtir/ Pra lhe servir de coberta aonde o senhor dormir
O pobre velho, calado, pegou o couro e saiu/ Seu neto de oito anos que aquela cena assistiu/ Correu atrás do avô, seu paletó sacudiu/ Metade daquele couro, chorando ele pediu
O velhinho, comovido, pra não ver o neto chorando/ Partiu o couro no meio e pro netinho foi dando/ O menino chegou em casa, seu pai foi lhe perguntando./ Pra quê você quer este couro que seu avô ia levando
Disse o menino ao pai: um dia vou me casar/ O senhor vai ficar velho e comigo vem morar/ Pode ser que aconteça de nós não se combinar/ Essa metade do couro vou dar pro senhor levar.

5. O ipê e o prisioneiro (Liu e Léo)

Quando há muito anos fui aprisionado nesta cela fria/ Do segundo andar da penitenciária lá na rua eu via/ Quando um jardineiro plantava um ipê e ao correr dos dias/ Ele foi crescendo e ganhando vida enquanto eu sofria
Meu ipê florido junto a minha cela/ Hoje tem altura de minha janela/ Só uma diferença há entre nós agora/ Aqui dentro é noite não tem mais aurora/ Quanta claridade tem você lá fora
Vejo em seu tronco cipó parasita te abraçando forte/ Enquanto te abraça suga sua seiva te levando a morte/ Assim foi comigo ela me abraçava depois me traía/ Por isso a matei e agora só tenho sua companhia
Meu ipê florido junto a minha cela/ Hoje tem altura de minha janela/ Só uma diferença há entre nós agora/ Aqui dentro é noite não tem mais aurora/ Quanta claridade tem você lá fora

6. João de Barro (Tonico e Tinoco)

O João de Barro pra ser feliz como eu/ Certo dia resolveu arranjar uma companheira/ Num vai e vem com o barro da biquinha/ Ele fez sua casinha lá no galho da paineira.
Toda manhã o pedreiro da floresta/ Cantava fazendo festa pra'quela que tanto amava/ Mas quando ele ia buscar um raminho/ Para construir seu ninho, o seu amor lhe enganava.
Mas neste mundo o mal feito é descoberto/ João de Barro viu de perto sua esperança perdida/ Cego de dôr trancou a porta da morada/ Deixando lá sua amada presa pro resto da vida.
Que semelhança marcando meu calendário/ Só que eu fiz o contrário do que o João de Barro fez/ Nosso Senhor me deu calma nessa hora/ A ingrata eu pus pra fora aonde anda eu não sei.

7. Punhal da vingança (Zé Fortuna e Pitangueira)

"Tereza e José se amavam/ Mas os pais dela obrigaram e de José se separararam/ E quando os dois se apartaram/ Num longo abraço juraram, pra nunca mais se casar,/ Um punhal pra cada um guardaram/ Com um trato feito: Se um dos dois se casasse um dia/ O outro tinha o direito de chegar fosse onde fosse e cravar o punhal no peito/ José foi estudar pra padre, Tereza também mudou/ Passados quatorze anos os pais a filha obrigou/ A casar com um velho rico contra o gosto ela casou/ Na hora do casamento, Tereza não conheceu/ Que o vigário era o José que os uniu perante Deus/ E ao lhe dar os parabéns junto um presente lhe deu."
Quando chegaram na porta da igreja/ Emocionada o presente ela abriu/ Dentro encontrou o punhal que um dia/ Ela entregou ao amor que partiu
Reconheu que o vigário era aquele/ Que no passado o punhal era dele/ Quis o destino que ele viesse/ Unir a outro um amor que era seu
Junto ao punhal encontrou um bilhete/ Onde Tereza releu a chorar/ Guarde contigo o punhal da vingança/ Porque não quero de ti me vingar
Seja feliz e esqueça o passado/ Peço por Deus para atrás não olhar/ Fique com o mundo que eu fico com Deus/ Porque com Deus aprendi a perdoar
Os convidados não compreendiam/ Qual o segredo de sua grande dor/ Somente ela sabia que havia/ Neste punhal uma jura de amor
Pegando firme o punhal da vingança/ Com desespero em seu peito cravou/ Enquanto o sino da igreja batia Ali Tereza sem vida tombou

8. O mineiro e o italiano (Tião Carreiro e Pardinho)

O mineiro e o italiano viviam às barras dos tribunais/ em uma demanda de terra que não deixava os dois em paz/ Só de pensar na derrota o pobre caboclo não dormia mais/ O italiano roncava nem que eu gaste alguns capitais/ Quero ver esse mineiro voltar de a pé pra Minas Gerais
Voltar de a pé pro mineiro seria feio pros seus parentes/ Apelou para o advogado fale pro juiz pra ter óo da gente/ Diga que nós somos pobres que meus filhinhos vivem doentes/ Um palmo de terra a mais para o italiano é indiferente/ Se o juiz me ajudar a ganhar lhe dou uma leitoa de presente
Retrucou o advogado o senhor não sabe o que está falando/ Não caia nessa besteira se não nos vamos entrar pro cano/ Esse juiz é uma fera, caboclo sério e de tutano/ Paulista da velha guarda família de 400 anos/ Mandar a leitoa para ele dar a vitória pro italiano
Porém chegou o grande dia que o tribunal deu o veredicto/ Mineiro ganhou a demanda, o advogado achou esquisito/ Mineiro disse ao doutor eu fiz conforme lhe havia dito/ Respondeu o advogado que o juiz vendeu e eu não acredito/ Jogo meu diploma fora se nesse angu não tiver mosquito
De fato, falou o mineiro, nem mesmo eu tô acreditando/ Ver meus filhinhos de a pé meu coração vivia sangrando/ Peguei uma leitoa gorda foi Deus do céu que me deu esse plano/ De uma cidade vizinha para o juiz eu fui despachando/ Só não mandei no meu nome, mandei no nome do italiano.

9. Tenente mineirinho (Tião Carreiro e Pardinho)

Num posto de gasolina meu caminhão eu abastecia,/ Nisto chegou um mineirinho como ajudante se oferecia,/ O mulato era franzino que pressa lida fé não fazia,/ Mas por gostar dos mineiro eu aceitei sua companhia.
Saimo cortando chão ao atravessar um mato fechado,/ De repente na estrada eu vi um tronco de atravessado,/ O mineiro resmungou pelo jeito vamos ser assaltado,/ Nem acabou de falar o tiroteio estava formado.
Chamei por meu São Cristóvão puxei dum berro que eu trazia,/ Olhei na mão do mineiro, vi um parabelo que reluzia,/ Cada tiro que ele dava no mato um cangaceiro gemia,/ Os cabra vendo a derrota fizeram a pista na mataria.
Eu falei pro mineirinho gostei de ver a sua bravura,/ Vamos viajar sempre junto pra enfrentar as paradas dura,/ O mineiro me falou, vou lhe falar a verdade pura,/ Não posso seguir contigo pois sou tenente da captura.
Ao me ver ali pasmado, o mineirinho deu uma risada,/ Gostei de sua companhia, minha missão está terminada,/ São Cristóvão lhe acompanhe, sejas feliz em sua jornada,/ Que eu seguirei meu destino de acabar com os ladrão da estrada.

10. A caneta e a enxada (Zico e Zeca)

“Certa vez uma caneta foi passear lá no sertão/ Encontrou-se com uma enxada, fazendo a plantação./ A enxada muito humilde, foi lhe fazer saudação,/ Mas a caneta soberba não quis pegar na sua mão./ E ainda por desaforo lhe passou uma repreensão.”
Disse a caneta pra enxada não vem perto de mim, não/ Você está suja de terra, de terra suja do chão/ Sabe com quem está falando, veja sua posição/ E não esqueça a distância da nossa separação.
Eu sou a caneta dourada que escreve nos tabelião/ Eu escrevo pros governos as leis da constituição/ Escrevi em papel de linho, pros ricaços e pros barão/ Só ando na mão dos mestres, dos homens de posição.
A enxada respondeu: de fato eu vivo no chão,/ Pra poder dar o que comer e vestir o seu patrão/ Eu vim no mundo primeiro quase no tempo de Adão/ Se não fosse o meu sustento ninguém tinha instrução.
Vai-te caneta orgulhosa, vergonha da geração/ A sua alta nobreza não passa de pretensão/ Você diz que escreve tudo, tem uma coisa que não/ É a palavra bonita que se chama.... educação!



p.s.: os cantores entre parêntesis não são necessariamente os que compuseram as músicas, mas os que eu lembro de ouvir cantando...

Taí, depois vou acrescentando...
Quem quiser contribuir, sinta-se em casa...

5 comentários:

  1. Nada de Almir Sater e Renato Teixeira?

    pô!

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  2. Eu não gosto do Almir Sater... e o Renato Teixeira eu não conheço muito, além disso eles são mais modernos...

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  3. Precisava de uma música sertaneja, mas precisava de um top 10 que fugisse dos padrões que os outros fazem (já acostumados com outros top 10 digeridos). Ouvi uma carta da seção "que saudade de você" no Eli corrêa e pesquisei a música "sementinha", aí me deparei com estas outras marvailhas.

    Valeu, obrigadão.

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  4. Boa relação, embora muitas outras músicas pudessem ter entrado. Importante foi o critério: sertaneja de raiz. Almir Satter, Renato Teixeira, Sergio Reis, Chitão e Xororó e outras duplas podem até cantar essas mesmas músicas, mas fazem parte de outros gêneros de música.

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  5. Só como exemplo, um grande clássico que não integrou a lista: "Boiadeiro Errante" (Teddy Vieira) - Liu e Léu.

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