sexta-feira, 14 de maio de 2010

O problema do fim

Sobre três filmes que assisti recentemente e que os finais me incomodaram.

Uma coisa que me incomodou bastante tanto em Bastardos Inglórios, quanto em Alice no país das maravilhas é o modo como esses filmes terminam, ou melhor o fim que é dado a eles. O terceiro caso, Um olhar do paraíso, é um pouco mais complicado porque o problema não é "só" o fim.


1. Bastardos Inglórios

O começo do filme é absolutamente deslumbrante... a referência aos faroestes, é um dos melhores inícios de que eu me lembro, talvez junto com Uma simples formalidade, O poderoso chefão e Apocalypse Now (só lembrei desses agora...). O problema, do meu ponto de vista, é que ele constrói toda uma caracterização em cima do Landa que, no fim, se mostra um bobão que se ferra. Nesse sentido, o filme me lembra um pouco a série Harry Potter em que o Voldemort, depois de passar toda a série sendo descrito como um dos maiores (senão o maior) bruxo de todos os tempos, passa a ser, no sétimo livro, um otário que conhece muito pouco de magia. Além disso, embora não deixe de ser engraçado ver Hitler e companhia morrerem antes do final da guerra, esse final em que praticamente todos morrem (mesmo se considerarmos uma referência aos filmes de Peckinpah, em especial, Meu sangue será tua herança) acaba se firmando como uma forma pouco inspirada de terminar o filme, ou melhor, fiquei com a impressão de que aquela foi uma alternativa para a falta de alternativa. Em outros termos, a impressão que me passou foi a de um filme que não tinha um fim (ou que talvez o fim era muito “convencional”, ou melhor ainda, muito linear), essa busca por algo diferente “cria” a reviravolta que se vê no filme, em que quem está fazendo “tudo errado” e esperando por um milagre se dá bem e quem tem tudo sob controle (o Landa) se ferra. É, por assim dizer, um final desleixado, embora, é claro, faça certo sentido com o filme que, por um lado, parece adotar uma postura bastante irreverente (a morte de Hitler e de seu alto escalão comprova isso, bem como os próprios bastardos), mas o filme, por outro lado, adota, no meu ponto de vista, um tom sério e o final soa como um tiro no pé. Em Cães de aluguel temos um final bem parecido, embora lá faça sentido, aqui ficou forçado.


2. Alice no país das maravilhas

Eu não fui assistir o filme na estréia e, ao chegar em casa, a Mirane (que gosta dos Bastardos e que discorda da opinião acima expressa) falou que ela achava que o Alice fazia o que eu dizia que o filme de Tarantino tinha feito. Pois bem, fui assistir. Para me livrar de comentar o filme todo digamos que, até o fim, ele é simpático. O fim, realmente, é um problema, embora, na minha opinião, diferente do que se encontra em Bastardos Inglórios. Se neste o problema é que o fim parece forçado dando a idéia de que não tinha um fim e se “adotou” um “fim provisório” para ser diferente, em Alice, Tim Burton (um diretor que eu gosto demais) não soube quando terminar o fim. O filme termina, mas ele continua... Aquele fim com ela voltando para o mundo “real” e fazendo aquele discurso despropositado é extremamente desnecessário... Talvez alguns diretores devam aprender a lição de escritores como João Cabral, Carlos Drummond de Andrade, Cardoso Pires, etc. de que o trabalho de cortar o que é desnecessário, o que não é essencial, ou seja, de lapidar o texto é fundamental. No entanto, se, por um lado, para o filme em si faz muito pouco sentido, na relação com o livro (Alice no país das maravilhas) esse final (tosco) parece fazer sentido, pois se no livro de Carroll a noção do sonho vem “salvaguardar” o maravilhoso “no seu devido lugar” (numa visão preconceituosa e pragmática ao extremo), ou seja, na imaginação, na fantasia, o filme de Tim Burton vem com uma lição moral que contrapõe o maravilhoso e a “realidade” o que, diga-se de passagem, soa um pouco incoerente com o resto de sua obra...


3. Um olhar do paraíso

Esse filme que, confesso, só fui assistir porque é dirigido pelo Peter Jackson é um caso a parte. Trata-se de um dos piores filmes que eu já vi (compete com o Crepúsculo, com o Harry Potter 5, entre outros). Foi uma experiência, no mínimo engraçada, pois foi um dos filmes que eu me senti mais angustiado de todos, pois você vai vendo o filme se colocar numa situação que não tem volta... vai vendo ele definhando e se tornando a porcaria que é, mas você imagina que o Peter Jackson (um bom diretor) vai tentar fazer algo para “arrumar” aquilo, que não é possível o filme ser ruim daquele jeito... você espera por um final salvador (sim! Sabe aqueles filmes que são ruins, mas que um final inspirado tira ele da lama e o transforma num filme assistível? Não lembro de nenhum exemplo agora...), mas nada... o filme vai se complicando (não no sentido de criar um problema difícil de ser resolvido), mas porque você vai ficando com a sensação de que ele não tem salvação... Chega o fim e ele consegue ser tão tosco (ou mais ainda) que o resto do filme... você sai do cinema e estar fora daquela sala (que eu adoro) parece uma coisa boa!!! É pra acabar.

3 comentários:

  1. Você sabe que eu discordo demais do que vc disse dos Bastardos. Mas concordo com o rstoooo
    E o Peter Jackson a gente perdoa, né. rsrs

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  2. Depois de ver a cena da morte do Saruman você ainda perdoa ele? é uma das cenas mais mal feitas da história...

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  3. Bom, pelo menos ele soube o que tirar do filme, imagino que aquela cena consta na versão extendida, mas não vai estar na versão do diretor...

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