domingo, 2 de maio de 2010

Molecagem, malandragem e "malandragem"

O jogo de hoje entre Santos e Santo André revela muita coisa sobre a imprensa brasileira e, de uma forma geral, sobre um estereótipo de brasileiro que se insiste em manter a qualquer preço. Eu, pessoalmente, acho que esse estereótipo é enganoso (ou tenho esperança que seja). Esse é o assunto desse texto.

1. Diferenciação entre molecagem, malandragem e "malandragem".

Eu não contesto a habilidade dos jogadores do Santos - em especial do André, do Neymar e do Ganso -, negar isso é uma bobagem que não faz sentido, de fato eles são habilidosos. Não é um erro dos árbitros "proteger" jogadores habilidosos de entradas duras. O problema é os jogadores se utilizarem dessa "proteção" cavando faltas e arrumando confusão e os árbitros serem coniventes. Aí é que entra o que eu, aqui, denomino de maladragem. Outro problema, talvez maior que o anterior, é a imprensa chamar de molecagem esse tipo de atitude. Principalmente se compararmos essa malandragem com a "malandragem" de que sempre acusamos os argentinos. Pois bem, aqui está o problema, os argentinos provocam, batem, xingam e, muitas vezes, tem a proteção do juiz e nós (os brasileiros) sempre ficamos indignados, revoltados com essa postura. Isso é mais ou menos a mesma coisa que acontece com os jogadores do Santos, com uma diferença. Os jogadores argentinos fingem ter tomado um murro, um tapa, uma cotevelada, mas (com a excessão, talvez, do Ortega e do Dalessandro), dificilmente ficam caindo o tempo todo pedindo falta. A "malandragem" deles é mais psicológica, não depende exclusivamente de uma proteção exagerada do árbitro. Embora o xingamento e a provocação possam ser vista como atitudes anti-esportivas elas são mais difíceis de se coibir do que o "cai-cai". Essa questão fica ainda mais interessante se compararmos, por exemplo, Neymar, Ganso e Robinho a jogadores como: Valdívia, Dagoberto e Dentinho. Estes, ao contrário daqueles, foram marcados pela arbitragem de tal maneira que ao primeiro sinal de fingimento eram advertidos com cartões, enquanto os jogadores do Santos caem 40 vezes por jogo e o juiz marca 35 e nas outras 5 não adverte o jogador por "fingimento". O time do Santos tem, realmente, jogadores muito habilidosos, mas fica complicado para qualquer defesa marcá-los sem poder encostar, fazer faltas, etc. A falta faz parte do jogo tanto quanto o drible, o exagero deve ser coibido, mas o ato em si desde que não seja violento é um recurso do defensor. A molecagem, como o próprio nome parece sugerir, implica coisas de "moleque", coisas que são aturadas ou entendidas porque se supõe que haja uma certa "inocência" nas ações, o que não se pode dizer do time do Santos. Os jogadores santistas usam deliberadamente esse "habeas corpus" dos juízes para cavar faltas. Isso não é molecagem, é malandragem, sem aspas. Apoiar e fingir não perceber isso é uma questão intrigante por parte da imprensa.

2. A imprensa, o sonho e o engodo.

Vou começar, novamente, falando que não há dúvida quanto à habilidade dos jogadores santistas, para que não haja dúvidas. O que me incomoda é a "vista grossa" que os jornalistas fazem para o fato de que em 3 dos 4 jogos das finais do paulistinha o Santos foi deliberadamente favorecido pela arbitragem. Contra o São Paulo, valeu gol de mão, gol impedido, jogador do São Paulo foi indevidamente expulso (outros que mereciam não foram), tudo, absolutamente tudo, era falta, etc. Mas não vou me ater nisso porque o São Paulo foi frouxo e não mereceu esse post. Contra o Santo André, no último jogo, a situação foi parecida (um gol absolutamente em posição normal foi anulado), além da cera tolerada e a cada falta do time do ABC foi punida com cartão amarelo. Neymar e Ganso se jogaram a vontade e o árbitro que não marcou boa parte dessas caídas não puniu eles por fingimento. O problema é que com a vitória do Santos esses "detalhes" foram esquecidos e o que se vê são manchetes do tipo: "Sofrido, com oito jogadores, mas com Ganso em noite mágica, o Santos é campeão" (GLOBO) ou ainda "Neymar brilha, Santos segura o Santo André com dois jogadores a menos e conquista o Campeonato Paulista de 2010" (ESPN). Como nenhum dos canais de imprensa que eu tenho acesso (e olha que vejo coisas distintas como a Globo e a ESPN, que se vangloria por não precisar fazer média com ninguém) e as opiniões são unânimes, resolvi bolar uma teoria sobre o motivo dessa adoração ao Santos.:
Tendo em vista que jornalistas sérios como boa parte dos da ESPN não veem nenhum problema com as vitórias do Santos, imagino eu que o desejo de um futebol vistoso (coisa que, contra os times grandes e mais o Santo André, o Santos só mostrou no segundo tempo do jogo contra o São Paulo e no primeiro tempo contra o Palmeiras) impede de ver esses erros crassos da arbitragem, bem como a malandragem a que me referi anteriormente. Bem, também posso ser eu que, como quer meu pai, não sei ver jogo de futebol e estou "mal intencionado" com o Santos.

3. Lembranças de outras épocas (Eras)

Me lembro de que quando o Kaká (ainda Cacá) subiu para os profissionais do São Paulo, todos demonstravam medo por ele ser "fraquinho fisicamente", pois o futebol profissional é muito mais "pegado" do que as categorias de base. Pois bem, arrisco a dizer que, se ele estivesse jogando no Santos, atualmente, não teria esse problema, pois o futebol "pegado" tornou-se o futebol "amarelado" e "avermelhado". Queria ver esse time do Santos na Libertadores, é claro que com arbitragem estrangeira.

4. O problema do estereótipo

Uma das coisas que muito se reclama da visão que os estrangeiros têm do Brasil diz respeito, justamente, a essa idéia de malandragem, de impunidade (derivando para a política, corrupção, etc.). Esse habeas corpus dado à malandragem santista e encampado pela imprensa parece revelar o pior: que isso tudo é realmente verdade, que é algo que está fortemente arraigado na cultura brasileira. Espero, sinceramente, que não.

2 comentários:

  1. Então, acho que você falou praticamente tudo. Nessa questão do apoio indondicional da arbitragem, entra o fato dos zagueiros começarem a ter medo do santos não por causa do futebol, mas por não poderem marcar. Do tipo " Poxa, lá vem o Neymar, e se eu marcar ele é falta!" E falta na área é pênalti, e pênalti é meio gol já né?
    Gostei da foto por sinal, fui eu quem tirou?

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