domingo, 16 de maio de 2010

Faroestes, os que mais gosto

Já que resolvi levar esse blog um pouco mais a sério tem algumas "homenagens" que não posso deixar de prestar... Como, provavelmente, falarei bastante de filmes aqui, vou fazer uma "lista" dos 10 + na minha opinião, é claro. Trata-se de uma "homenagem" porque foi com eles que eu aprendi a gostar de cinema (ah, só tenho 23 anos, então não assisti esses filmes, de fato, nos cinemas), ou seja, foi com John Wayne, Kirk Douglas, James Stewart, Clint Eastwood, Audie Murphy, Gregory Peck, Randolph Scott, Robert Mitchum, Richard Widmark, Burt Lancaster, Dan Duryea, Joel McCrea, Stephen McNelly, Lee Van Cleef, entre outros. Em grande parte, assistindo as sessões de bang bang da Record, depois da Tv Família, e da Band até que eu passei a ter acesso aos canais pagos... Aproveitando a deixa, em muito devo, então, ao meu pai, que adora westerns, e também ao tio Ieca que me deu várias dicas... Ia ser os 10 +, mas podem se tornar 11, 12, 13, sei lá, quantos eu precisar... Essa lista, inclusive, costuma estar em constante mudanças porque estou sempre a procura de novos faroestes... Ah, a ordem de gosto é algo que muda, um dia gosto mais de um, no outro gosto mais de outro...


1. O HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA (The Man Who Shot Liberty Valance, 1962). Diretor: John Ford. Elenco: James Stewart, John Wayne, Lee Marvin, Vera Miles, Edmond O'Brien, Andy Devine, Jeanette Nolan, John Qualen, Woody Strode, Lee Van Cleef, Strother Martin, Denver Pyle.
Um filme excepcional do mestre dos faroestes (e do cinema como um todo) John Ford. É nesse filme que é dita a frase imortal: "When the legend becomes fact, print the legend" (mais ou menos: "Quando a lenda se torna fato, imprima a lenda"). Uma atuação impecável de James Stewart e de John Wayne. Uma curiosidade é que, apesar de o título do filme se referir ao seu personagem, o "protagonista" do filme é o personagem de Stewart, isso é curioso porque Wayne é famoso por ser o ator que mais atuou em filmes como protagonista, isso se torna ainda mais interessante devido ao fato de esse ser um de seus melhores filmes. Nesse sentido vale uma nota, apesar de reclamarem que ele "só faz um papel, o dele", nesse filme, assim como em boa parte dos bangue-bangues, esse "tipo" é importante. Aqui (como em outras obras), ele empresta ao filme não apenas a sua atuação, mas a sua "marca". Se se reclama que ele não era um grande ator por desempenhar sempre o mesmo tipo de personagem, não deve-se tirar o mérito de ele encarnar esse personagem de maneira inigualável.



2. ONDE COMEÇA O INFERNO (Rio Bravo, 1959). Diretor: Howard Hawks. Elenco: John Wayne, Dean Martin, Ricky Nelson, Angie Dickinson, Walter Brennan, Ward Bond, John Russell, Pedro Gonzalez, Estelita Rodriguez.
Segundo filme, segundo com o John Wayne. Esse filme tem uma porção de curiosidades que valem a pena ressaltar. A primeira: reza a lenda que esse filme foi feito como uma resposta a "Matar ou morrer" (High Noon, 1952) de Fred Zinemann, a se reparar, primeiro, a semelhança entre as duas histórias, em ambos os casos o xerife por fazer o que acha certo e não se render à pressões se coloca numa posição difícil. Se a situação é, a principio, parecida, o tratamento é diverso, enquanto no filme de Zinemann o xerife se vê sozinho, abandonado pela cidade que protegera quando foi preciso, no filme de Hawks, o xerife John T. tem problemas em manter seus amigos e a população fora do problema, preferindo cuidar ele mesmo (juntamente com seus ajudantes) do problema. Trata-se, é claro, também de um posicionamento político, principalmente porque Hawks (assim como Wayne) considerava o filme "Matar ou morrer" um filme "anti-patriótico", pois passava uma visão de uma sociedade americana acovardada, que não defendia na prática os princípios que brandava na teoria. Outra curiosidade é a questão da tradução do título que é, de fato, uma bagunça. Ao que parece, preferiu-se, no Brasil, traduzir o título do filme como "Onde começa o inferno" porque o nome "Rio Bravo" tinha sido dado a um filme de John Ford que se chamava "Rio Grande" e, para que não houvesse confusão, preferiu-se essa versão do título do filme (aliás, traduções de títulos de filmes estranhas, bizarras, etc. é o que não falta, algumas para bem outras para mal... Ex: Shane/Os brutos também amam [!?]). Já que falamos de John Ford de novo, acho proveitosa a aproximação desses dois diretores (amados pelos representantes da novelle vague) porque ambos representam um tipo de diretor: os contadores de histórias. Eles sabiam como ninguém apresentar uma narrativa para seus expectadores, no meu ponto de vista, são poucos que ainda fazem isso: talvez o Eastwood ou o Tim Burton... a se ver mais... A minha última curiosidade diz respeito a outros dois filmes, ambos dirigidos por Hawks e estrelados por Wayne que podem ser vistos como variantes desta história: Eldorado e Rio Lobo. Isso parece mostrar a força que Hawks achava que tinha essa história, no que concordo com ele, Eldorado conta com Robert Mitchum no elenco... não vai constar nesta lista de aproximadamente 10, mas vale a pena conferir. Quanto a Rio Lobo, sou apaixonado pela música que toca enquanto passam os créditos no inicio do filme...



3. TERRA BRUTA (Two Rode Together, 1961). Diretor: John Ford. Elenco: James Stewart, Richard Widmark, Shirley Jones, Linda Cristal, Andy Devine, John McIntire, Mae Marsh, Anna Lee, Harry Carey Jr., Woody Strode.
Mais um filme de John Ford e o último desta lista (deixo de fora os dois que são considerados, em termos de faroeste os principais: Rastros de Ódio/The searchers (1956) e No tempo das diligências/Stagecoach (1939)). Quem conhece sabe que esse filme é, em certo sentido, muito parecido com Rastros de Ódio, pois, assim como aquele, conta a história de um "resgate" de brancos seqüestrados pelos índios. Os dois filmes possuem, no entanto, tons muito diferentes, enquanto o filme de 1956 se marca por uma forte seriedade e lirismo, o filme de 1961 é mais sarcástico-irônico, de um humor cortante, quase visceral. O primeiro é estrelado por Wayne, enquanto este tem como ator principal James Stewart. Ambos os personagens são homens duros, secos, que expressam um certo desencantamento com o mundo, mas se no filme mais famoso é marcado pela raiva que o protagonista sente pelos peles-vermelhas e que, aparentemente, se transfere à sua sobrinha seqüestrada, no seu "primo pobre" o personagem de James Stewart é um cínico que procura se aproveitar financeiramente da situação das famílias que tiveram seus parentes tomados de si. Alguns dos diálogos (bem como a amizade) entre o personagem de Stewart e Widmark tem momentos antológicos... a interpretação de Stewart, para variar, é notável.



4. BALAS QUE NÃO ERRAM (No name on the bullet, 1959). Diretor: Jack Arnold. Elenco: Audie Murphy, Charles Drake, Joan Evans, Virginia Grey, Warren Stevens, R.G. Armstrong, Willis Bouchey, Edgar Stehli, Simon Scott, Karl Swenson.
A história é bem simples: famoso matador profissional (Murphy) chega a uma pequena cidade. O xerife, mesmo sabendo que ele matou muitos, não pode prendê-lo porque não há um mandato de prisão para ele. Motivo: ele faz com que aqueles que ele é pago para matar saquem primeiro, logo, mata por legítima defesa. A população se põe em polvorosa, tentando advinhar de quem ele está atrás, muitos entram em pânico, pensando que são o seu alvo. Um exemplo de filme B muito bem realizado, Jack Arnold - mais conhecido por seus filmes de terror, alguns deles são considerados cults (O monstro da Lagoa Negra, 1954, por exemplo) - consegue criar um forte clima de tensão entre os personagens. A se destacar a contraposição entre o médico e o assassino, um dos elementos marcantes do filme, bem como a maneira como ele transgride as noções de mocinho e bandido, comuns nesse gênero.


5. O RIO DAS ALMAS PERDIDAS (River of no return, 1954). Diretor: Otto Preminger. Elenco: Robert Mitchum, Marilyn Monroe, Douglas Spencer, Rory Callhoun, Tommy Rettig, Murvyn Vye, Claire Andre, Don Beddoe.
Esse é um filme um pouco diferente dos outros. A história é a seguinte: um fazendeiro que vive com o filho às margens de um rio ajuda um casal a sair de um balsa na qual eles viajavam em busca de chegar a Carson City. Ao perceber que a viagem de balsa seria praticamente impossível o homem rouba o cavalo e o rifle do fazendeiro, deixando ele, seu filho e sua namorada à mercê dos índios. O fazendeiro para fugir dos índios e em busca de vingança tenta fazer com o filho e a namorada do outro o percurso até a cidade de balsa... Se o cenário não fosse prototípico do western, poderia dizer-se que se trata de um filme de aventura nas corredeiras do rio. Destacam-se algumas imagens particularmente bonitas, em especial, a do começo do filme e as que se passam no rio. O diretor Preminger (conhecido por filmes como Laura, 1944, e Anatomia de um crime, 1959) não é um especialista em faroestes, mas constrói um filme sólido e marcante para o qual contribuem as interpretações de Mitchum e Monroe (um dos filmes em que ela está mais bonita, apesar de que o figurino e a sua dança nas cenas do saloon não ajudam muito).


6. CONSCIÊNCIAS MORTAS (The ox-bow incident, 1943). Diretor: William A. Wellman. Elenco: Henry Fonda, Dana Andrews, Mary Beth Hughes, Harry Davenport, Anthony Quinn, William Eythe, Harry Morgan, Jane Darwell, Matt Briggs, Frank Conroy.
Um filme "sencillo" e tocante que se coloca quase como um manifesto contra a barbárie do linchamento. Conta a história de um homem que chega a uma cidadezinha e tenta impedir que a população enforque um homem que teria cometido um assassinato. Henry Fonda interpreta o homem que tenta impedir o linchamento num papel que parece ter sido feito para ele (Fonda participou de outros faroestes importantes como: My Darling Clementine/Paixão dos Fortes, de John Ford, e Era uma vez no Oeste/Once upon a time in Oeste, de Sergio Leone). Trata-se de um filme bastante curto, apenas 74 minutos, mas que não tem uma frase, uma tomada que não seja essencial. Destacam-se os diálogos que constroem a tensão dramática do filme e o fim que coroa toda a produção.


7. OS IMPERDOÁVEIS (Unforgiven, 1992). Diretor: Clint Eastwood. Elenco: Clint Eastwood, Gene Hackman, Morgan Freeman, Richard Harris, Jaimz Woolvett, Saul Rubinek, Frances Fisher, Anna Levine, Rob Campbell.
Clint Eastwood parece ter conseguido nesse filme fazer uma espécie de síntese entre o faroeste mais tradicional e o spaghetti western, numa fusão de violência e lirismo como poucas vezes se viu na história desse gênero e do cinema como um todo. Embora o filme ainda esteja fortemente ligado a um posicionamento "revisionista", ou seja, que faz uma releitura da vida do Oeste e de suas lendas, demonstrando toda a violência, a impunidade, que muitos filmes "jogam para baixo do tapete", nota-se que ele consegue se desgarrar bastante do estilo spaghetthi em que, às vezes, a história era deixada de lado para a explosão da violência, do grotesco, do "baixo". Um filme maravilhoso e com uma trilha sonora perfeita.


8. NA TRILHA DOS PROSCRITOS (Ride a Crooked Trail, 1958). Diretor: Jesse Hibbs. Elenco: Audie Murphy, Gia Scala, Henry Silva, Walter Matthau.
Homem (Audie Murphy) mata xerife famoso e chega a uma cidade em que o juiz (Walter Matthau) é também o xerife e com mão de ferro mantém a paz na cidade, seu lema é: atirar primeiro, perguntar depois. Nesse cidade, o personagem de Audie Murphy por ter roubado a estrela do xerife que matou é confundido com ele e é nomeado xerife daquele lugar. As coisas se complicam quando a quadrilha de que ele fazia parte chega à cidade e quer a ajuda dele para assaltar o banco. Mais um filme B com momentos engraçadíssimos... A atuação de Walter Matthau como o juiz bêbado é espetacular...


9. A MORTE NÃO MANDA RECADO (The Ballad of Cable Hogue, 1970). Diretor: Sam Peckinpah. Elenco: Jason Robards, Stella Stevens, David Warner, L.Q. Jones, Strother Martin, Slim Pickens, R.G. Armstrong, Gene Evans, Peter Whitney, William Mims.
Peckinpah talvez seja um dos mais viscerais diretores de faroestes. Seus filmes (Meu sangue será sua herança, Juramento de vinganças, por exemplo) são bastante violentos, abordando os tipos miseráveis, sujos, de "mau caráter", etc. Nesse sentido, as suas obras dialogam com os spaghetti westerns (e são o mais próximo que esses filmes chegarão da lista hehehe). Por outro lado, boa parte de seus filmes foram realizados num período (decadas de 60 e 70) em que o faroeste entra em declínio, e, em certo sentido, os seus filmes são sobre o declínio do próprio Oeste com a chegada da modernização e da "civilização". Nesse filme se percebe como a modernidade atropela o estilo de vida do Antigo Oeste essa já havia sido o tema de um dos mais importantes filmes de Peckinpah: Pistoleiros do Entardecer (1962).



10. HOMEM SEM RUMO (Man without a star, 1955). Diretor: King Vidor. Elenco: Kirk Douglas, Jeanne Crain, Claire Trevor, Richard Boone, Jay C. Flippen, William Campbell, Myrna Hansen, Mara Corday, Eddy Waller, Sheb Wooley.
Não podia deixar a lista sem um filme do Kirk Douglas, estava entre este filme, Sem lei e sem alma, O último pôr do sol (que tem a cena antológica em que o personagem de Douglas vai para o duelo sem carregar a arma), Duelo de Titãs, escolhi este (o triste é que entre os 10 não há nenhum sobre o duelo no Curral OK). O título em português perde uma duplicidade que há no título em inglês o "sem estrela" pode ser entendido tanto no sentido de "sem rumo, sem um norte" como "não é um xerife", mas ele acaba fazendo o papel de um. Mais um filme que mostra o "desastre" que o progresso, simbolizado pela cerca de arame farpado, traz ao modo de vida do Oeste.


Vou encerrar a lista com esses 10, mas segue abaixo sugestões de filmes para se assistir. Praticamente todos poderiam ter lugar nessa lista: E o sangue semeou a terra, Da terra nascem os homens, Atire a primeira pedra, O último pistoleiro, Ardida como pimenta, Comando Negro, Eldorado, Rastros de Ódio, No tempo das diligências, Sem lei e sem alma, Um pecado em cada alma, Onde impera a traição, Meu sangue será sua herança, Josey Walles, Paixão dos fortes, Pistoleiros do entardecer, etc.

ALGUNS FILMES CONSIDERADOS CLÁSSICOS DO GÊNERO, MAS QUE EU NÃO GOSTO MUITO:

MATAR OU MORRER
ERA UMA VEZ NO OESTE
TRÊS HOMENS EM CONFLITO
DANÇA COM LOBOS
RIO VERMELHO
OS BRUTOS TAMBÉM AMAM

2 comentários:

  1. Bom, ainda acho um absurdo vc ter deixado "E o sangue semeou a terra" e "Da terra nascem os homens" fora da lista... mas fazer o que, a lista é sua...
    Agora "Os brutos também amam" é bem ruinzinho mesmo. Igual ao "Balas que não erram"... aff! Oh filminho ruim...
    Ah! Eu não sabia que "O rio das almas perdidas" era do Preminger... que coisa.
    E é claro que o James Stewart é foda! E o Dean Martin também!
    Ah! E "Eldorado" é melhor que "Onde começa o inferno", rsrsrsrsrsrs (brincadeira, mas eu gosto dos dois igual)

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  2. Eu gosto mais do Onde começa o inferno, e olha que eu prefiro o Robert Mutchum (que tá no Eldorado) ao Dean Martin... E o Eldorado ainda tem o "Cavalgue, corajosamente cavalgue..."

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