Uma das mais famosas frases de O poderoso chefão é algo do
tipo: “quando eu quase estava fora, eles me puxaram para dentro”. Depois do
advento do Bom Senso FC a impressão que a tapetada orquestrada pelo Fluminense
e pelos cretinos, digo, advogados do STJD atua como um balde de água fria e
demonstração de que a banda podre do futebol continua dando as cartas.
Novamente um tribunal não fez justiça, coisa que parece, cada vez mais, impossível
dada a burocratização desses órgãos ou mesmo o fato de eles atenderem a
interesses escusos. Quando se homologa uma injustiça como essa, lembro sempre
do episódio do The Mentalist em que o
vídeo com o assassino matando uma pessoa é excluído das provas porque o Jane
entrou na casa dele e tomou uma xícara de chá. O Jane deveria ser punido, sim,
mas deixar um cara que obviamente cometeu o crime (ainda mais assassinato) sair
livre não é justiça.
O caso da Portuguesa (eterna prejudicada do futebol
brasileiro) lembra, aliás, uma idiossincrasia brasileira. Roberto DaMatta em
seu Carnavais, malandros e heróis propõe que no Brasil há uma diferença
perniciosa entre as noções de pessoa e indivíduo. A “pessoa” é o sujeito de
frases do tipo “sabe com quem você está falando?”, ou seja, aquele que espera e
consegue ser tratado de maneira diferente, com reverência, aqueles que dobram a
lei e a utilizam sempre em seu proveito. O “indivíduo”, pelo contrário, é
aquele que é tratado segundo os rigores da lei. Quanto trata dessa
diferenciação, por sua vez, me vem sempre à cabeça uma crônica de Luis Fernando
Veríssimo intitulada “A alegria do ladrão de galinhas”. Esse texto tem como
pano de fundo a prisão de Daniel Dantas por fraude financeira. Nada, como
argumenta Veríssimo, é mais distinto do roubo de galinhas (o cara rouba, é
preso, e pronto) do que os esquemas financeiros em que a diferença entre
falcatrua e bom negócio são borrados. Esses caras, contudo, dada a falta de
nitidez de seus negócios tendem a escapar mesmo depois de golpes milionários.
Aqui, a Portuguesa é como o ladrão de galinhas e, como tal,
a espera a letra fria da lei. Já O Fluminense é o Daniel Dantas e os esquemas
fraudulentos tendem, sempre, a beneficiá-lo porque recebe, invariavelmente,
tratamento diferenciado. Tanto é que, em 2010, num caso semelhante, prevaleceu
o bom senso, agora, mais do que a lei, valeu a condição de “pessoa” dos
cariocas.